Qual sua declaração de amor preferida? Esta foi a pergunta da noite entre amigos.
Éramos seis. Uma das mulheres nem precisou pensar. Passou a vida sonhando com a "sua" declaração de amor. "E o vento levou", ela disse, sem dúvidas.
O namorado concordou, embora eu tivesse certeza que, nem mesmo o filme, ele havia assistido.
Acabei por concluir o óbvio, pelo menos para mim. Começo de namoro é tão fictício como declarações cinematográficas, a diferença é que dura menos e ninguém se lembra.
Enquanto eu caia na real, o outro foi falando.
"Simplesmente amor! Essa foi a melhor! Uma sequencia de placas onde o cara se declara para a mulher do melhor amigo em pleno Natal, sensacional!
Fiquei tão curiosa para assistir ao filme quanto para imaginar o que os amigos pensariam disso ao deixarem as mulheres sozinhas com o amigo. Também achei estranho a velocidade em que ele se lembrou dos detalhes. Fui obrigada a vasculhar minha mente em busca de algum prova que o incriminasse, mas nada foi encontrado. Passado o susto, voltei para a Terra e a conversa estava mais animada.
Outra garrafa de vinho foi aberta enquanto a declaração do maravilhoso Jack Nicholson em "Melhor é impossível" era lembrada pelo Tuca, que, depois de rondar o passado com filmes que ninguém conhecia e flertar com Fiona e Shrek. E não é que os homens se lembravam de mais declarações do que nós? Jogou na mesa a cena em que o maníaco Jack conclui. "Você me faz querer ser um homem melhor!".
A Paula, mais conservadora decidiu pelo clássico "Orgulho e Preconceito". A frase, que convenhamos, não ficaria assim tão bonita fora do contexto, não fosse o tom solene e a voz rouca da moça ao falar pausadamente. "
Em vão tenho lutado comigo mesmo; nada consegui. Meus sentimentos não podem ser reprimidos e preciso que me permita dizer-lhe que eu a admiro e a amo ardentemente." e ainda concluir com a resposta da mocinha."Você enfeitiçou meu corpo e minha alma. Te amo. Te amo. Te amo."
Causou furor até mesmo na mesa ao lado que, pegando carona na nossa ideia, animaram a discussão.
A mim, restou apenas a honestidade. Esta sim, culpada pelo desassossego e não eu.
Me desculpem os apaixonados, românticos e lunáticos. Mas também eu acredito no amor. Arrisco até a dizer que justamente por não ter me casado "ainda", acredito mais do que vocês. Falei.
O silêncio cruel de quem espera uma grande resposta me cobrava a tal declaração arrebatadora.
Vejo que todos se emocionam com contos de fadas, ainda que disfarçados de moderno.
Eu fico com a vida real.
Nada é mais belo que o amor. E ele, o amor, só é possível ser encontrado em nossa nudez. Neste ponto me lembro do maravilhoso "A Alma Imoral", mas vamos ao que interessa.
É preciso se despir de conceitos, de crenças e principalmente de esperança para dar de cara com ele. O amor não é cor de rosa. O amor não é fácil. Mas para ser, de fato amor, é preciso ser entre almas e não entre pessoas. Não ha receitas, não há certo ou errado para o amor.
Por isso, que para espanto de muitos, o amor que mais admiro não foi fiel, não foi calmo, mas foi real.
O amor entre Frida Kahlo e Diego Rivera, para mim é o mais forte, o que encara a vida de frente. Depois de muitos acidentes, de sentir seu corpo como um quebra cabeça sem nexo, logo após ter amputado os dedos dos pés. Deprimida, vivendo sozinha, sem dinheiro e sem esperança. O ex-marido, Diego Rivera, entra e a pediu em casamento pela segunda vez.
No que Frida responde que não precisa de resgate, ele rebate, mas eu sim. Preciso de você exatamente como é e como sempre te amei.
Esta cena do filme me marcou para sempre. Para mim, o amor é isso. Um sentimento que independe de regra, da moral, que está acima do humano e por isso mesmo, não pode ser julgado por nós, apenas sentido ou não.
Não encontrei esta parte do filme para postar aqui, uma pena, pois é realmente linda.